A importância do acompanhamento psicológico durante o intercâmbio de Au Pair
Psicóloga Julia Adam
10/3/2025
O programa de Au Pair oferece a jovens adultos a oportunidade de viver em outro país, conciliando o trabalho com a imersão cultural e o aprendizado de idiomas. Apesar de ser uma experiência enriquecedora, o processo envolve desafios emocionais significativos, que podem impactar a saúde mental do participante. Por isso, o acompanhamento psicológico tem se mostrado um recurso fundamental para promover adaptação, resiliência e bem-estar.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2017), mudanças culturais e relocação internacional estão associadas a níveis mais altos de estresse, ansiedade e sintomas depressivos. Isso ocorre porque o indivíduo precisa lidar simultaneamente com demandas emocionais, sociais e práticas, como morar com uma família anfitriã, assumir responsabilidades com crianças e adaptar-se a novos padrões de comunicação.
A literatura sobre psicologia intercultural destaca o conceito de choque cultural (Oberg, 1960), definido como o processo de adaptação emocional diante de um ambiente culturalmente distinto. Au Pairs frequentemente vivenciam sentimentos de solidão, insegurança e perda de referências sociais, especialmente nos primeiros meses. Nesse contexto, a Terapia Cognitivo-Comportamental (Beck, 2013) é uma abordagem eficaz para auxiliar na reestruturação de pensamentos disfuncionais que podem surgir durante o período de adaptação.
Além disso, a fase do ciclo de vida em que muitos Au Pairs se encontram, geralmente entre a adolescência tardia e o início da vida adulta, já é marcada por transições importantes, como definição de identidade profissional, autonomia financeira e construção de projetos de vida. Arnett (2000), ao propor o conceito de emerging adulthood, destaca que esse período envolve vulnerabilidades emocionais que podem ser intensificadas quando se somam mudanças culturais e responsabilidades no exterior.
O acompanhamento psicológico contribui não apenas para o manejo de sintomas emocionais, mas também para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e habilidades de regulação emocional. Estudos de Ward, Bochner e Furnham (2001) sobre adaptação cultural reforçam que a capacidade de lidar com o estresse intercultural está diretamente relacionada à qualidade do suporte recebido, incluindo apoio profissional.
Portanto, contar com um psicólogo durante o intercâmbio favorece não apenas a saúde mental imediata do Au Pair, mas também amplia o aproveitamento da experiência. O suporte clínico auxilia na construção de um espaço seguro de fala, no fortalecimento da autoestima e na elaboração de metas realistas, promovendo uma vivência mais equilibrada e enriquecedora.
Referências
ARNETT, J. J. Emerging adulthood: A theory of development from the late teens through the twenties. American Psychologist, v. 55, n. 5, p. 469-480, 2000.
BECK, J. S. Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
OBERG, K. Cultural shock: Adjustment to new cultural environments. Practical Anthropology, v. 7, p. 177-182, 1960.
WARD, C.; BOCHNER, S.; FURNHAM, A. The Psychology of Culture Shock. 2. ed. London: Routledge, 2001.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates. Geneva: WHO, 2017.